Acendo a luz num quarto escuro: certo, o quarto iluminado não é mais o quarto escuro, eu o perdi para sempre. No entanto, não se trata exatamente do mesmo quarto? Não é, portanto, o quarto escuro o único conteúdo do quarto iluminado? Aquilo que não posso mais ter, aquilo que infinitamente escapa para trás e, ao mesmo tempo, lança-me para frente é apenas uma representação da linguagem, o escuro pressuposto à luz; mas se abandono a tentativa de apreender este pressuposto, se volto a minha atenção para a luz mesma, se a recebo - aquilo que a luz me dá é, então, o próprio quarto, o escuro não hipotético. O único conteúdo da revelação é o em si fechado, o velado - a luz é apenas o acontecer do escuro a si mesmo.
(AGAMBEN, Giorgio. Idea della Prosa. Macerata: Quodlibet, 2002. p. 109. Tradução: Vinícius Nicastro Honesko)
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