sábado, 20 de novembro de 2010
Bolonha
Rossa, terracotta, vermelha de sangue.
Sob pórticos mórbidos como ventres enaltecidos,
fantasmas de tempos outros.
Na sandice de uma mente espectral.
Pulam os tempos, pulam memórias.
E Bolonha, a vermelha, vem do despertar
das vozes acessas nos recondidos cantos,
de rumores emergentes que estremecem meu coração.
Ecco, tanta luz apagada por rastros brandos,
tanta voz audível em frequências absurdas
e o solar desencanto do sangue a queimar.
Sub species aeternitatis.
Vermelho, terracotta, rosso,
baluartes de eras estranhas, de sons abafados.
Lamúrias de mulheres a chorar pelos mortos,
crianças a gritar pelas mães desaparecidas.
Fogo do céu e a bomba do novo mundo.
Figuras do tempo que em tempos de fim
dos tempos o tempo parece aplacar.
Sub species aeternitatis.
Sôfrego, caminhando e chorando
sob pórticos que dizem o não dito de uma história.
Irrompe o som, irrompe a lua,
são destronados os imperadores e malditos os papas.
O cânone está posto sob o vermelho das arcadas.
A vida sente o cheiro do desespero,
a pólvora não mais incomoda.
Canto do sábio perdido, do ignorante encontrado.
Bolonha, terracotta, terra cozida.
Tantos vermelhos pintam seu céu,
tanta luz se esconde nos seus pórticos
e vidas inteiras se dobram nos seus vicolos.
Que saudade da Itália!
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