Sopram ventos do absurdo, arrebatadores da alma, que me lançam ao abismo em que um dia sonharam poetas encontrar o inefável. As palavras latejam em minha cabeça, como esse vento maldito que me tonteia e empurra às bordas do trem da vida. Um lance de dados? Nada terá tido lugar senão o lugar, e o vento sopra mais forte, anguloso e surdo como o vazio do lugar. Nada, nada, nada. A negação absoluta que reverte a vida e o acaso desta ciranda intermitente fazem-me gritar em silêncio. Puro desespero, mas palavras ainda latejam em minha cabeça. Estou surdo, ab-surdo; me dou conta de que são os ventos, as sombras, o vazio do nada. Tolos poetas extasiados. Viver sem viver em si, esperando morrer por não morrer, Tereza D'Ávila, é a tolice de um encontro absurdo. Não percebe que é o desespero?! Não percebe!? São estes ventos torpes que nos carregam para o mundo dos espectros, para este Hades quotidiano deste dilacerado mundo. Minha visão se embaça, o som toca minha pele como fogo, o silêncio me entope. Exilado no próprio corpo, me esvaio com a força deste vento que parece não ter fim...
Imagem: Francisco de Goya y Lucientes. Morreu a verdade. 1810-14.
o absurdo de nós mesmos em meio ao mundo-cão e suas ciladas.
ResponderExcluirlouvo o texto e ao mesmo tempo me alegro por tamanha inspiração.
Obrigado pela leitura Antônio!
ResponderExcluirAliás, continuemos impenetráveis...
Um abraço.