quarta-feira, 23 de julho de 2014
Estudo sobre um sorriso
Uma vida sem poesia é uma vida sem vida, meu amor.
Por que vais para o rio cujas margens não mais podes conhecer?
Habitas ainda as águas desse desterro?
Inóspito mundo onde a vida se confunde com esse rio,
onde pousas tua cabeça perdida em desvarios
chorando à espera de uma vida que vem.
Demasiado perdida, posto que encontrada,
a última lágrima de teus olhos parou ao lado de teu sorriso.
Jamais me esquecerei que isso ainda podia dizer,
jamais me esquecerei.
E já não sei o que amo: se uma língua perdida
ou teu pranto, o mesmo que sonda meus poemas.
Por que cruzas o rio onde já não podes me dizer, querida?
Nele não enxergo mais tua lágrima
e tudo soa vazio, insuportavelmente vazio.
Percebo tua vida indo embora
cruzando margens intratáveis,
nessas águas em que não conheço nem tuas lágrimas
nem teu sorriso.
Imagem: Giovanni A. Boltraffio. Retrato de uma senhora como Santa Lúcia. 1500. Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid.
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