segunda-feira, 26 de maio de 2014

Montagens de Murilo


"A poesia somos todos nós": assim o poeta termina suas metamorfoses, diante do abismo da iniciação. A arte do tempo, os ciclones de flores e o sorriso da musa. O poeta parte pela vida, parte a vida, desdobra-se à beira-mar. Imberbe, matreiro, joga raciocínios ao léu e planta a vida no poema. Todo mundo é enigma e a eternidade deve ser historiada por quem frequenta o labirinto onde se representa diariamente a pantomima cósmica. Já estamos livres da metáfora e dos mitos: não restam senão bibliotecas ambulantes já esvaziadas de livros. Mas ainda somos poetas e isso nos dá acesso à linguagem dos deuses, para além do espaço e do tempo, essas categorias anacrônicas que o homem deverá abstrair se quiser conquistar a poesia da vida. E continuamos vagando - com o pensamento em férias nos sonhos - pelo vasto signo concreto que se move e é apenas medido pelo espírito: o universo. A lira continua soando, o espaço-tempo se prostra diante das palavras, um indubitável som que preenche a vida numa imagem plural desenhada na cidade eterna: Orfeu Orftu Orfele Orfnós Orfvós Orfeles.

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