sexta-feira, 30 de maio de 2014

Um poema


Cheiro de mijo e suor
cidade inundada,
ensolarada.
Correm soltos desvarios,
aplacam ventos
os sopros de pulmões cansados.
Vago ao redor de mim mesmo
tentando fugir da fedentina;
mas ela em mim se impregna
e me corrói a carne.
Corro os olhos ao longe
e a vejo soletrando verbos defectivos.
Olhar matreiro,
como quem dança ébrio de sonhos.
Apenas pisco e ela se foi;
tomou o mesmo rumo da cidade,
que, infestada de gente, desce
o rio dos mortos.
Cheiro de mijo e suor,
cidade inundada de ausências.
A dureza dos esbarrões
e mais nenhuma imagem,
nenhum verbo, nenhuma palavra.
Ela já está no rio,
viva, porém.
Vai na galera dos loucos,
dos desavisados, dos destraídos,
daqueles que jamais souberam amar,
que nunca sentiram o cheiro de
mijo e suor,
talvez, a única forma da cidade.

Imagem: Blu.

Um comentário:

umultiplo disse...

legal o blog,
parabéns