quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Pequeno delírio em parágrafo III


A realidade é inegável. Não por um seu suposto caráter evidente, pois não há dar-se a ver. Não por uma impossibilidade de dela escapar, pois o que são as palavras senão adendos fugidios à realidade? Não, a realidade não é uma conta das idades do Real - isso que não cessa de não se escrever -, mas tão-somente uma das pontas de um dos icebergs da possibilidade. Supor um inexorável, supor um tempo composto de coisas, supor, su-pôr, é sobrepor realidades: eis as falácias da inegabilidade da realidade. Mas nada diz o caráter inegável da realidade. Não por sua proximidade com a morte (que só sabemos por sermos compostos pelas potencialidades falsas chamadas palavras), não por sua aparente intransigência em relação às consciências (aparência e consciência, mais uma vez, apenas nosso toque Real na realidade). Não. A realidade é inegável porque não se nega o que nunca se afirma.

Imagem: Nicola Scafidi. Luchino Visconti durante as filmagens de "Gattopardo". Palermo. 1962.

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