domingo, 23 de dezembro de 2012

Pequeno delírio em parágrafo


 a Paulo Leminski
"a poesia é a realidade.
o campo da poesia são os homens.
se fossem as palavras, estaríamos feitos." - Oscar Conde.

Às voltas com uma espécie de realismo visceral, toco palavras como toco a carne. Espúria ilusão dos jogos de braços e abraços, caro Leminski. Não há toque no campo da poesia, a encarnação é o feitiço do per-fazer-se. Estaríamos feitos, mesmo se o abismo das palavras nos engolisse; estaríamos feitos, mesmo se as palavras fossem o sopro que falta nos momentos em que a realidade - o doce insulto da palavra à vida - esboça seus desenhos opacos na carne dos homens: um passo sem solução. O mistério da vida profana é o indulto que as palavras se permitem nos dar - a nós, pobres e tolos palavrórios soltos em carne pelos abismos e pelos campos floridos de um verão quase invernal.

Imagem: Hieronymus Bosch. Jardim das delícias terrestres (detalhe). 1500. Museo del Prado, Madrid.

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