quarta-feira, 1 de julho de 2015

Memórias de amor



Aquilo que um dia ousamos chamar amor
ousa, no mundo dos nomes, o silêncio.
Poemas falhos em terra de sonho,
espumas revoltas no sono dos mares.

Quem dera a memória pudesse algo
contra o silêncio e os olvidos do amor.
Sonhos de mar em terra de poemas,
revoltas de espumas na vida prosaica.

Tantos anos e nenhum poema disse o amor.
Só se somam formas e apelativos - o nome -
sempre atrasados no silêncio da caneta.
(Poeta, insista em transfigurar o papel!)

Nenhuma voz ousa o silêncio do amor,
nem a imemorável Beatriz um dia mostrou-se
ao seu Dante que só ouvia olvidos de Virgílio.
(Por que memória quando tudo há de escorrer?)

Desfaça-se a vida em ritmo poético
pois sei que os nomes só nos dizem
os silêncios que ousam o amor.
E tudo se vai em poemas falhos:

terra, mares, sonhos e qualquer memória
que se queira inesquecível.



Imagem: Eugène Delacroix. A barca de Dante. 1822. Museu do Louvre, Paris.




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