segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Delirium sem forma


"Je tiens l'appréhension de Dieu, fût-il sans forme et sans mode, comme un arrêt dans le mouvement qui nous porte à l'appréhension plus obscure de l'inconnu". Quando Georges Bataille pensou sua apreensão de um deus sem forma, eu já tinha perdido minha cabeça. Já sentia que não a possuía e que tampouco era por ela possuído. Alguém a tinha talhado com um corte frouxo e ao mesmo tempo sorrateiro para colocá-la junto de outras num museu de cabeças. Mal sabia eu que minha cabeça tinha se tornado um troféu de uma coleção cujas outras peças, outras cabeças, estavam lá, imaterialmente colocadas como fantasmas de imaginationes malae. Era ela agora parte de uma composição ilusória que dominava um horizonte de desejos e que, entretanto, sabia-se incapaz de amar para além da idealização de um obscuro e desconhecido objeto fantasmático. A cabeça, agora ilusão, agia criando a existência do irreal para idolatrá-lo como possível, porém, sabendo de sua impossibilidade. Era a prostração melancólica que tomava minha persona, como no momento da excitação de qualquer zona erógena, pelas delícias do gozo com fantasmas, les plus obscures de l’inconnu.

Imagem: Giotto. Êxtase de São Francisco. 1297-1300. (detalhe). Basílica de São Francisco, Assis.

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