I.
Um belo rosto é talvez o único lugar onde há verdadeiramente silêncio. Enquanto o caráter assinala o rosto com palavras não ditas e intenções não realizadas, enquanto que a face do animal parece sempre no ponto de proferir palavras, a beleza humana abre o rosto ao silêncio. Mas o silêncio - que aqui advém - não é simplesmente suspensão do discurso, mas silêncio da própria palavra, o tornar-se visível da palavra: ideia da linguagem. Assim, o silêncio do rosto é verdadeiramente a morada do homem.
II.
Somente a palavra nos coloca em contato com as coisas mudas. Enquanto a natureza e os animais estão desde sempre presos em uma língua e, ainda que se calem, incessantemente falam e respondem a signos; somente o homem consegue interromper, na palavra, a língua infinita da natureza e colocar-se por um átimo diante das coisas mudas. Somente para o homem existe a rosa informulada, a ideia da rosa.
Giorgio Agamben. Idea del linguaggio I. In.: Idea della Prosa. Macerata: Quodlibet, 2002. p. 103. (Tradução: Vinícius Nicastro Honesko)
Imagem: Carriera Rosalba. Autorretrato. 1746. Galleria dell'Accademia, Venezia.
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