Por isso a insuficiência de toda relação com o esquecido que se limite simplesmente em restituí-lo à memória, de inscrevê-lo nos arquivos e monumentos da história ou, no limite, construir para este uma outra tradição e uma outra história, aquela dos oprimidos e dos vencidos, que se escreve com instrumentos diversos daqueles das classes dominantes, mas que não difere substancialmente desta. Contra esta confusão, ocorre recordar que a tradição do inesquecível [tradizione dell’indimenticabile] não é uma tradição – ela é, ao contrário, o que marca todas as tradições com um selo de infâmia ou de glória e, às vezes, com os dois ao mesmo tempo. O que torna histórica cada história e transmissível cada tradição é somente o núcleo inesquecível que ela porta dentro de si. A alternativa aqui não é entre esquecer ou recordar, inconsciência ou tomada de consciência: decisiva é apenas a capacidade de permanecer fiel aquilo que – enquanto incessantemente esquecido – deve permanecer inesquecível, exige de algum modo permanecer conosco, de ser ainda – para nós – de alguma maneira possível. Responder a esta exigência é a única responsabilidade histórica que me sentiria capaz de assumir incondicionalmente.
AGAMBEN, Giorgio. Il tempo che resta. Turim: Bollati Boringhieri, 2008. pp. 43-44. tradução caseira Jnf. Imagem: Guerra do contestado. Anônimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário