Ouvi um rumor estranho numa voz conhecida. Era como se a voz, aquela mesma que havia me dito tantas coisas que já me era impossível não identificá-la, tivesse se recriado como eco do que outrora fora. Mas como reconheci aquele rumor estranho no que era conhecido daquela voz? Pensei ser tudo fruto da punição de Hera: agora a voz que havia me dito tantas coisas poderia tão somente repetir com seu som vozes estranhas. Era, portanto, uma voz vazia (e, nesse sentido, talvez a única voz pura por excelência, a que, ao não dizer nada por si, diz apenas si mesma - e para si mesma - com vozes outras). Porém, toda minha estranheza se avoluma quando começo a pensar que, talvez, nem mesmo as coisas que antes ouvira foram ditas por uma voz conhecida: era já sempre um outro, um estranho, um rumor, a me falar de coisas que são as palavras e de palavras que são coisas. Como as coisas (e sempre lembro do Doce Enigma de Murilo Mendes: "Coisas, e a morte que existe nelas,/ Experiência de desconsolo e de fatalidade/ Para as pálpebras que voltaram do amanhã"), isto é, também como as palavras, talvez o estranho que ouvi no som dessa voz - voz que agora é Ninfa - seja os pequenos chamados da morte, do nada que não é nem mesmo nada. Ecco, il Caproni:
Un'idea mi frulla,
scema come una rosa.
Dopo di noi non c'è nulla.
Nemmeno il nulla,
che già sarebbe qualcosa
scema come una rosa.
Dopo di noi non c'è nulla.
Nemmeno il nulla,
che già sarebbe qualcosa
Imagem: Nicolas Poussin. Eco e Narciso. 1628-1630. Musée du Louvre, Paris.
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