sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pequeno parágrafo sobre a morada


Nestes rincões desertificados, a atmosfera pesa como névoa fria ao desabrigo. Uma sordidez quase palpável em meio a espectros vagantes parece dar o ritmo da vida. Vejo como querem tocar, com a ponta dos dedos, as águas frias do Estige, pensando alcançar uma espécie de imortalidade. Consomem-se e, com seus rostos cadavéricos, mostram-me seu vazio profundo na cavidade ocular, como que a insultar-me por minha petulante insistência em querer vê-los. Nenhum Virgílio me acompanha nesta barca e meu passeio não tem o rumo celestial. Vago, como um tolo, nisto a que, um dia, chamei de minha morada...

Imagem: Sandro Botticelli. Divina Comédia. (Manuscrito Hamilton 201.) 1480s. Staatliche Museen, Berlin.

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