Se um prefácio inteligente - ou, como se diz, "autônomo" - não deve tratar de nada e reduzir-se, no máximo, a uma espécie de falso movimento, uma boa nota ou posfácio pode ser apenas o que mostra como o autor não tem absolutamente nada a acrescentar ao seu livro.
A nota é, nesse sentido, o paradigma do tempo do fim, no qual a última coisa que pode vir à mente de uma pessoa sensata é acrescentar algo ao já feito. Mas exatamente essa arte de falar sem dizer nada e de agir sem fazer - ou, caso se queira, de "recapitular", de desfazer e de salvar o todo - é o que há de mais difícil.
O autor dessa nota se dá conta perfeitamente - como quem quer que escreva em italiano sobre filosofia primeira ou política - de ser um sobrevivente. Ou ainda, exatamente essa consciência o distingue daqueles que pretendem escrever hoje sobre tais assuntos. Ele sabe que não apenas "a possibilidade de despertar a existência histórica de um povo" dissolveu-se já há um tempo, mas que até mesmo a própria ideia de um chamamento de um povo ou de uma tarefa histórica assimilável - de uma klesis ou de uma "classe" - deveria ser repensada do começo ao fim. Essa condição de sobrevivente - de escritor sem destinatário ou de poeta sem povo - não lhe autoriza nem o cinismo nem o desespero. Ao contrário, o tempo presente, como tempo que vem depois do último dia, como tempo em que nada pode acontecer porque o novissimo está de todo modo em curso, parece-lhe o mais maduro, o único verdadeiro pleroma dos tempos. O próprio de tal tempo - do nosso tempo - é que, a um certo ponto, todos - todos os povos e todos os homens da terra - encontraram-se em posição de resto. Isso implica, observando-se com mais atenção, uma generalização sem precedentes da condição messiânica, na qual o que de início era apenas uma hipótese - a ausência de obra, a singularidade qualquer, o bloom - tornou-se realidade. Exatamente porque era dirigido a esse não-sujeito e a essa "vida sem forma" e a esse shabbath do homem - isto é, a um público que por definição não podia recebê-lo - é que se pode dizer que o livro não falhou no seu objetivo e não perdeu, portanto, nada da sua inatualidade.
No sábado, como é notório, devemos nos abster de toda melakhà, de toda obra produtiva. Esse ócio, essa inoperosidade central é, para o homem, uma espécie de alma suplementar ou, caso se queira, a sua verdadeira alma. Um ato de pura destruição, todavia, uma atividade que tivesse um caráter perfeitamente destrutivo ou descriativo, equivaleria à menuchà, ao ócio sabático e, como tal, não seria proibido. Não o trabalho, mas a inoperosidade e descriação são, nesse sentido, o paradigma da política que vem (que vem não significa futura). A redenção, o tiqqun que está em questão no livro, não é uma obra, mas uma espécie particular de vacância sabática. Ela é o insalvável que torna possível a salvação, o irreparável que deixa advir a redenção. Por isso, no livro, a pergunta decisiva não é "o que fazer?", mas "como fazer?", e o ser é menos importante do que o assim. Inoperosidade não significa inércia, mas katargesis - isto é, uma operação em que o como substitui integralmente o o quê, em que a vida sem forma e as formas sem vida coincidem em uma forma de vida. A exposição dessa inoperosidade era a obra do livro. Ela coincide perfeitamente com esta nota.
Giorgio Agamben. Tiqqun de la noche. In.: La Comunità che viene. Torino: Bollati Boringhieri, 2001. pp. 91-93. (Tradução: Vinícius Nicastro Honesko)
Imagem: Francisco Goya. Velho no balanço (desenho). 1824-28. Hispanic Society of America, New York.
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