sexta-feira, 14 de março de 2008

Trabalho final


Aos bandoleiros ainda por aqui...


Uma máquina de morte letal
Que me exponha ao absoluto eu
Prestes a se extinguir

No patíbulo: da forca da guilhotina ou da fogueira
Deixei os restos daquele transgressor
Que outrora seguia em meus devaneios

Está sepultado na poeira da estrada
Espalhado aos quatro cantos
Pelos ventos que cruzam o mundo

Apenas na morte e no esquecimento
Realizou seus obscuros desígnios
De travessias desmedidas

Agora queda io:
À espera fúnebre da máquina que me matará
Bovinamente covarde para a experiência do suicídio

O eu absoluto sem o bandoleiro
É névoa opaca suplicando pelo indolor desastre
Besta sacrifical na pira banal do cotidiano

Ordinariamente comum no não diverso
Cinzentamente descolado de todas as cores



Eis que alcanço minha meta-tanásica
É lenta, lógica, letal
Encontrei-a em minhas horas de lazer

É esta vida que levo
Desgraçadamente para o trabalho
Desgraçadamente em retorno do trabalho

Meu quinhão de suicídio diário
Meu beijo orgiástico nas deusas de Saturno
Morto que ainda vive, procria, diverte-se

Queda io: vaga incolor da nulidade burocrática
Flama tempestuosa que morreu inerme
Ficção de lei que degolou seu fora

Fora-da-lei é tão-somente zumbido choroso de vento
Na lei primordial de morte e desespero
Que se tornou meu túmulo mundano

Queda io: desfocada foto do nada que sou
Desfigurado boneco da organização soberana
Guardião zeloso do extermínio que tudo assola

Pira que queima eficaz e abstratamente...
Degola quase prazerosa...
Enquanto não me cai a cabeça:
Encontrei-as em meus dias sob o sol.

Encontrei-me em meus dias sob o sol:
Anjo da boa-nova do progresso
Servo pentecostal do Deus que se chama Nada
Nulidade vazia e contínua de meu espelho

Ainda louvarei o bandoleiro expurgado aos ventos
E a ele darei meu testemunho de memória
Merecerá uma estátua
E a merda dos pombos

Até que sobrevenha a Noite das noites
Dama de hálito pestilento.
A máquina trabalhou eficazmente!

Até lá também estarei aos ventos.

Se algo restar desse mundo.


(Mas que isso não passe de uma pilheriaprofecia)

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