segunda-feira, 24 de março de 2014

Ao pescador



"Yo soy de los que creen que el ser humano está condenando de antemano a la derrota, a la derrota sin apelaciones, pero que hay que salir y dar la pelea y darla, además, de la mejor forma posible, de cara y limpiamente, sin pedir cuartel (porque además no te lo darán) e intentar caer como un valiente, y que eso es nuestra victoria" 

Roberto Bolaño. (apud: Jorge Herralde. Para Roberto Bolaño. Bogotá: Villegas Ed, 2005. pp. 101-102).


a Pedro Zander (1950-2014)


São muitos os rios
rios que os nomes não esgotam
correndo, cada um a seu modo, para o grande oceano

sim: há represas, há diques, há o mercúrio

a valentia, para o rio, é atravessar

Pedro, demasiadas foram as travessias

longos planaltos, o caudaloso rio
o rio que hoje é um fio
entardeceres de rio, vigílias de rio

alguns milhares de anos entre os pescadores homéricos

e os rústicos pescadores evangelistas
outros milhares até os pescadores do Tibagi,
do São Francisco e do Uruguai

as margens sem limites do rio da memória

o rio heraclitiano do tempo
rio Estígia abrigo de todos os mortais

mais de dois mil anos, um sopro
multitudinária a história humana
mas apenas uma é a despedida

resta pelear e lançar novamente redes,

a boa-nova do pobre Simão  

a Olarias inesquecível e seus pequenos riachos à céu aberto
sua comuna e um balcão às margens do infinito

deixo meu taco de sinuca, minha rede
meus apetrechos de luta

deixo muitas saudades, risos, peleas na madrugada princesina      
deixo um nome

o pescador vira rio

segue para o mar


Imagem: Paul Gauguin. Pobre pescador. 1896. Acevo Masp.   
         

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