Comentário de um grande desenho feito em Rodez e dado ao doutor Jacques Latrémolière como agradecimento por seus eletrochoques.
As doutrinas hindus sobre o yoga da respiração são falsas.
Nós temos nas costas vértebras plenas, perfuradas pelo prego da dor e que, com o caminhar, o esforço dos pés para se levantarem, a resistência ao abandono, fazem, encaixando-se umas nas outras, caixas que melhor nos informam sobre nós mesmos do que todas as pesquisas metafísicas ou metapsíquicas sobre o princípio da vida.
Resistir em seu corpo tal como ele é, sem jamais procurar conhecê-lo por outra coisa do que sua vontade de resistência cotidiana a todos os abandonos diante do esforço de fazer e que a vida cotidiana demanda, é, com efeito, tudo o que o homem pode e deve fazer sem jamais se autorizar a interrogar a transcendência do sopro ou do espírito, pois, de fato, ele não existe.
E o prego de uma dor dentária,
o golpe do martelo numa queda acidental sobre um osso,
dizendo mais sobre as trevas do inconsciente do que todas as buscas do yoga.
É tudo o que quis exprimir pelo desenho em que vemos um homem caminhando e que arrasta atrás de si sua dor como a velha fosforescência dentária do cisto das penas cariadas.
E seu abdômen é o torno diante dele apertado por todas as cólicas de seus pregos.
Já as sofreu todas?
Não, mas mesmo a morte não saberia pará-lo.
E ele passará nos seus próprios passos de sombra,
imagens de todos os pesos de carne às suas coxas musculosas ligados.
Antonin Artaud. Oeuvres. Paris: Gallimard, 2004. p. 1260. (Tradução: Vinícius Nicastro Honesko)
Imagem: Antonin Artaud. L'homme et sa douleur. abril de 1946.
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