quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Estudo sobre a memória XII



Palavras deitam-se e destroem
páginas outrora agoniadas
à espera de vida.

Uma mistura de areia e mel,
ao fundo, paredes brancas
assoladas pela imagem de Mussolini.

Pediam-me abrigo as palavras
confundindo-me com as imagens
de um tempo já findo.

Copos plásticos, pão francês,
imberbe e ainda matreiro.
Mil novecentos e que?

Deixe-nos contar os dias,
as horas e os porquês,
diziam-me as palavras.

Uma kombi arrastava jogadores,
noites de fumaça e cartas.
Mil novecentos e que?

Onde havia agonia e branco
agora há a tolice das palavras
que roubam a cena.

Cartas aleatórias, quadros de Tiziano
e uma agradável voz nova
que já parece tão antiga.

Como marcar o branco,
matar Mussolini e ainda assim
dizer palavra?


Imagem: Kazimir Malevich. Branco sobre branco. 1918. 

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