Repetidamente a idéia (imagem, sensação.. ou qualquer metáfora aproximativa para tratar de algo irrepresentável) da morte me surge. Ela não aparece de forma premeditada, como os preparativos para uma experiência de pensamento já de antemão preparada, nem vem revestida do pavor que comumente é associado à figuração da finitude por alguém também finito (propiciadora de estupor a todos nós, ‘desgraçadamente’ na clareira humana, na condição de viventes). Insinua-se como um pequeno sobressalto físico, um mal-estar próximo à náusea (nau-sía, esta afetação marítima...) em terra firme e demarcada. Estes sintomas físicos são os preparativos insones (esqueci de mencionar, não raro ocorrem no meio da madrugada) para um lampejo profano e de vigília de que, na infinidade impossível de contingências não catalogáveis, da genealogia de um plano cosmológico (não restrito apenas ao cosmos terrestre) e da história profunda e inconseqüente do tempo humano sobre a terra, de maneira miraculosamente banal, alguém (eu?) nasceu. Não estaria aqui para contar isso e nem pensar como “individualidade” não fosse a filigrana de um conjunto de arbitrariedades, saltos, constantes e derivas abissais (não é nada trivial o fato dos séculos de humanismo filosófico ocidental centrarem-se justamente neste conceito tão fastasmático e, por isso aterrador, concretamente presente, de sujeito). Mas meu cataclismo psíquico noturno (tão físico e prosaico como uma polução ou incontinência urinária, tão devastador como a impossível visão do nada) se dá na imediata seqüência - e ainda utilizarei uma metáfora - desta figuração. Após a consciência furtiva de toda esta travessia do ser, esta fenomenologia inapreensível para uma singularidade que fala, sonha, sofre, come, defeca, vive... dói muito saber que é preciso, sim é preciso!, morrer.
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