quarta-feira, 13 de março de 2013

Coisa em si


a impossível coisa em si kantiana
não designa um fora da representação
monstruosidade, inominável, Deus
mas os limites potenciais do pensamento
nunca foges de ti
estás condenado ao antropomorfismo
até os sonhos são demasiadamente humanos
nem a pedra bruta está fora
até a miséria é pensável
mas também estes volumes de nimbos no céu
e as tardes de maio, quando começa a anoitecer

um turista na vida é obsedado por estes monstros
das coisas em si o gozo da coisa em si
os turistas e suas hóstias com códigos de barras
os metafísicos estão por todos os lados
o eternamente mesmo do nada devorando tudo
plástico, lixo, filas, conclaves, contas a pagar
o animal humano tornando-se coisa em si
a impossível espectralidade encarnada
parida por um deus vazio
ao som de máquinas de cartão de crédito
agências de viagens das coisas em si
o calvário é aqui
sem redenção
mas há muitas gargalhadas nos parques temáticos

ser à toa
ser pagão
não pagar dízimos
não se ensimesmar

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