sábado, 20 de abril de 2013

Fragmento à morte


Venho de ti e torno a ti,
sentimento nascido com a luz, com o calor,
batizado quando o choro era alegria,
reconhecido em Pier Paolo
à origem de uma ansiosa epopeia:
caminhei à luz da história,
mas, sempre, sem ser heróico
sob o teu domínio, íntimo pensamento.
Coagulava-se no teu traço de luz,
nas atrozes desconfianças da tua chama,
todo ato verdadeiro do mundo na história
aqui se verificava inteiro,
e perdia a vida para reavê-la:
a vida era real somente se bela...
A fúria da confissão,
primeiro, depois a fúria da clareza:
era de ti que nascia, hipócrita, obscuro
sentimento! E então acusam até minha paixão,
me enlameiam, dizem-me informe, impuro
obsessivo, diletante, mas perjuro.
Tu me isolas, me dás a certeza da vida:
estou na fogueira, jogo a carta do fogo,
e venço, este meu pouco e imenso bem,
venço esta infinita miséria,
minha piedade que me dá também tua
justa ira amiga.
Posso fazê-lo, porque muito te sofri!
Torno a ti, como torna
um emigrado ao seu país e o redescobre:
fiz fortuna (no intelecto)
e sou feliz, exatamente
como era em um tempo, destituído de norma.
Uma raiva preta de poesia no peito,
uma louca velhice de jovenzinho.
Sem mais, apenas nós,
minha conviva, sem mais.

Imagem: urnas funerárias em Sant'Apollinare in Classe.

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