segunda-feira, 13 de julho de 2015

Escrita e fúria



Escrever também pode ser um gesto de fúria, querida.
Os versos perdidos por não terem sido anotados na hora precisa,
o buquê de sempre-vivas tentando nos fazer crer
de que a morte não constrói, aos nossos olhos, seu império.

Tudo isso pode ser o som da escrita
(mas também é a voz da fúria).

Do sangue da castração do céu pelo tempo, seu filho,
vem a fúria das letras sempre-vivas
enquanto nós, homens,
adormecemos no império da morte.


Imagem: Orestes em Delfos ladeado por Atenas e Pílades entre as Eríneas e sacerdotisas do oráculo. aprox. 330 A.C.

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