A recente reimpressão, em uma coleção de bolso, de um livro que há anos havia se tornado inencontrável, L'érotique des troubadours, de René Nelli, insere-se em um renovado interesse pela poesia medieval e, em particular, occitânica, que já há alguns anos caracteriza a cultura francesa. O primeiro despertar dos estudos provençais na França – depois das pesquisas dos críticos românticos, de Raynouard a Fauriel[1] –, na época de Anglade e de Jeanroy[2], fora caracterizado por uma sordidez em face da lírica trovadora; e essa incompreensão logo na sequência aumentou pela progressiva substituição do pseudo-problema do amor cortês pelo único problema real, aquele do entendimento do que a experiência poética trovadora tinha de único e próprio.
A matriz desse estudo de Nelli – ao qual se deve, em conjunto com Lavaud, também uma ampla antologia de textos provençais[3] – é declaradamente sociológica: "Nous entendons par Erotique provençale", diz ele, “l'ensemble des théories et des conduites socialisées qui, dans le Midi de la France et dans les divers pays d’Europe influencés par la culture occitane, ont pendant trois cent ans – du début du XII siècle à la fin du XIV – regularisé la tendance sexuelle et donné un sens nouveau à l'idée d'Amour... l’érotique provençale ne se réduit absolument pas à la littérature qu’elle a suscitée... L'Amour provençal est donc un phenomène social qui doit être étudié et explique comme tel”[4]. O objetivo de sua pesquisa é, portanto, "retrouver sous les mythes poétiques lucidement elaborés les comportements cérémoniels primitifs qui l’ont fondé dans le social”[5].
Em conformidade com esses princípios, Nelli oferece uma espécie de síntese das pesquisas sobre a erótica cortês, enriquecida por paralelos etnográficos e folclóricos e, nessa perspectiva, seus resultados com frequência são convincentes (observe-se, nesse sentido, seu equilibrado exame das teses sobre a origem árabe da erótica provençal, sobre a qual arabistas e filólogos românicos frequentemente discutiram com muito pouca serenidade). Mas a parte mais original da pesquisa de Nelli por certo é aquela em que, por meio de uma análise diacrônica das fontes poéticas, reconstrói, talvez com mais rigor do que até hoje já tenha sido feito, a formação e a estrutura do cerimonial erótico trovador. No capítulo sobre a erótica dos trovadores clássicos (clássica é aí definida a geração poética que vai de Bernart de Ventadorn a Uc de Saint Circ, e que compreende alguns dos mais prestigiosos trovadores citados por Dante, de Giraut de Bronelh a Bertran de Born), ele sublinha assim o caráter ao mesmo tempo casto e perverso, fantasmático e cerimonial de uma relação amorosa que, mesmo que permanecendo dominada por um ideal de castidade, não excluía o tener, o baizr, o abrasssar, o manejar e implicava, como fase suprema, a prova singular (asag) que era a contemplação da mulher nua[6].
Se essa exploração da erótica dos trovadores certamente é sugestiva, o limite do trabalho de Nelli está no fato de que, ao longo de sua pesquisa, jamais o problema específico da poesia trovadora foi levantado enquanto tal. Se à primeira vista isso parece justificado pela perspectiva sociológica de sua pesquisa, voltada a encontrar o comportamento social sob o mito poético, esse limite, todavia, dá testemunho de uma singular incompreensão do próprio objeto. Se, com efeito, algo caracteriza de forma exemplar o fenômeno occitânico, é justamente que Eros e poesia nele estão conjugados de modo indissolúvel; e isso não por que a poesia trovadora seja expressão de certo comportamento social cujo desconhecimento faz com que ela permaneça ininteligível, mas porque Eros e poesia aí estão entrelaçados e envolvidos (entrebescat, para usar um termo trovador) em um círculo no interior do qual tanto o texto poético aparece como o único lugar oferecido à realização do desejo erótico quanto a experiência erótica como o fundamento e o sentido da poesia. O poemeto Lo chastel d’amors parece exprimir essa união em uma alegoria até demasiadamente explícita:
Quest chastel hai fatz ab sen
ab gran costz de...
e ab tal enchantamen
que hom no-l ve se no-l ten
de ditz e de pessamen
.........
Dinaz lo chastel seguranh
estan cellas a cui tanh
cui presz ni joi no sofranh
toz lur sojorn e lur banh
son ditz e messatg’ estranh
qi da loing lur son trames.[7]
E o próprio joi, esse termo tão discutido no qual se reassume a plenitude edênica do Eros trovador, não é inteligível senão no interior da experiência poética em que o situam os trovadores[8], e, se a hipótese de Camproux[9] é exata, ele é também etimologicamente conexo a uma prática linguística (Joi de Jocus, oposto, como jogo de palavras, a ludus, jogo corpóreo).
A arbitrária fratura entre uma realidade social do amor cortês, por um lado, e uma série de textos poéticos em que esse amor teria encontrado expressão, por outro, impede justamente de apreender o centro da experiência trovadora, na qual o amor se liga à palavra poética segundo uma tradição à qual ainda Dante é fiel quando declara, na Vita nova, que o fim e a beatitude de seu amor está "naquelas palavras que louvam a minha mulher”[10]. A herança que a civilização occitânica transmitiu à cultura ocidental não é tanto certa concepção do amor (que, de resto, apesar das análises de Nelli, permanece obscura) quanto o nexo Eros-linguagem poética, o entrebescamen de desejo e poesia. E caso se quisesse procurar, nos traços exemplares de Spitzer, um trait éternel da poesia românica, é certo que justamente esse nexo poderia fornecer o paradigma capaz de explicar tanto o troblar clos, como "tendência especificamente românica para a forma preciosa”[11], quanto a análoga tendência da poesia românica para uma autossuficiência e uma dimensão absoluta do texto poético. O trobar é clos porque é em seu fechado círculo que se celebra a união sem fim do desejo e de seu fantasmático objeto, enquanto a concepção tipicamente medieval do caráter fantasmático do amor encontra sua resolução e seu apagamento em uma prática poética (o "gioi che mai non fina”, de Guittone). O texto poético é o único asilo oferecido a um amor de lonh “que não quer possuir o próprio estado de não possuído”[12], porque é em seu fechado espaço que Eros procura apropriar-se poeticamente do que de outro modo não poderia ser nem apreendido nem gozado. Enquanto esse essencial entrebescamen textual de desejo e palavra poética não for compreendido e explorado, qualquer tentativa de reconstituir um suposto costume erótico occitânico passa simplesmente ao lado do fenômeno trovador.
Se a França – herdeira, de Scève a Mallarmé, do trobar clos provençal – assiste hoje a um despertar do interesse pela poesia occitânica, e se a cultura inglesa moderna desta se aproximou na época de Pound, ainda que com equívocos talvez inevitáveis, na Itália, apesar de uma escola de filologia românica que nos deu alguns das mais resistentes edições críticas de textos trovadores, a experiência dos trovadores não chegou nem mesmo a arranhar a cultura poética moderna. Esse recalque já está presente no projeto de De Sanctis de uma história literária nacional, na qual nenhum espaço é deixado às "vazias generalidades dos trovadores”, e isso é ainda mais aberrante uma vez que a poesia italiana é geneticamente ligada à provençal por um vínculo que ainda é vivo e operante em Dante. A ruptura acontece apenas ao longo dos séculos XIV e XV, entre Petrarca e o despertar dos estudos provençais no século XVI com Cariteo, Bembo e Barbieri.
Uma relação autêntica com a experiência trovadora deve, portanto, ser religada no ponto em que a deixou Dante, no qual ele estabelece sua relação pessoal com Arnaut Daniel e com o mundo provençal, isto é, formalmente, no trobar clos das Rime Petrose, e, criticamente, no canto XXVI do Purgatório. Não é por acaso que Arnaut, como representante por excelência do projeto erótico-poético trovador, seja situado por Dante no limite da montanha do Purgatório, exatamente no limiar intransitável do Éden, e Matilda, a “mulher enamorada” que Dante aí encontra, é, de fato, o símbolo da inocência edênica e, ao mesmo tempo, a cifra do objeto impossível da poesia e do eros trovador: por isso, ela, verdadeiro senhal, é apresentada por Dante em termos estilizados e impessoais, e por isso, como já foi observado, todo o episódio lembra muito a “pastorella” provençal e cavalcantiana[13]. O "pecado hermafrodita"[14] e o “não servimos humana lei”, que Guido Guinizelli remete a si e a Arnaut, aludem ao projeto trovador de atingir em uma experiência terrena o "doce jogo” do inocente amor edênico, a joi que para o Dante da Comédia permanece interditada à condição humana.
É aí, no limiar do Éden, na tensão atualíssima em direção a um projeto impossível, que uma tradição poética italiana que tivesse tomado consciência de si e das próprias origens poderia retomar o diálogo suspenso com a experiência dos trovadores.
A matriz desse estudo de Nelli – ao qual se deve, em conjunto com Lavaud, também uma ampla antologia de textos provençais[3] – é declaradamente sociológica: "Nous entendons par Erotique provençale", diz ele, “l'ensemble des théories et des conduites socialisées qui, dans le Midi de la France et dans les divers pays d’Europe influencés par la culture occitane, ont pendant trois cent ans – du début du XII siècle à la fin du XIV – regularisé la tendance sexuelle et donné un sens nouveau à l'idée d'Amour... l’érotique provençale ne se réduit absolument pas à la littérature qu’elle a suscitée... L'Amour provençal est donc un phenomène social qui doit être étudié et explique comme tel”[4]. O objetivo de sua pesquisa é, portanto, "retrouver sous les mythes poétiques lucidement elaborés les comportements cérémoniels primitifs qui l’ont fondé dans le social”[5].
Em conformidade com esses princípios, Nelli oferece uma espécie de síntese das pesquisas sobre a erótica cortês, enriquecida por paralelos etnográficos e folclóricos e, nessa perspectiva, seus resultados com frequência são convincentes (observe-se, nesse sentido, seu equilibrado exame das teses sobre a origem árabe da erótica provençal, sobre a qual arabistas e filólogos românicos frequentemente discutiram com muito pouca serenidade). Mas a parte mais original da pesquisa de Nelli por certo é aquela em que, por meio de uma análise diacrônica das fontes poéticas, reconstrói, talvez com mais rigor do que até hoje já tenha sido feito, a formação e a estrutura do cerimonial erótico trovador. No capítulo sobre a erótica dos trovadores clássicos (clássica é aí definida a geração poética que vai de Bernart de Ventadorn a Uc de Saint Circ, e que compreende alguns dos mais prestigiosos trovadores citados por Dante, de Giraut de Bronelh a Bertran de Born), ele sublinha assim o caráter ao mesmo tempo casto e perverso, fantasmático e cerimonial de uma relação amorosa que, mesmo que permanecendo dominada por um ideal de castidade, não excluía o tener, o baizr, o abrasssar, o manejar e implicava, como fase suprema, a prova singular (asag) que era a contemplação da mulher nua[6].
Se essa exploração da erótica dos trovadores certamente é sugestiva, o limite do trabalho de Nelli está no fato de que, ao longo de sua pesquisa, jamais o problema específico da poesia trovadora foi levantado enquanto tal. Se à primeira vista isso parece justificado pela perspectiva sociológica de sua pesquisa, voltada a encontrar o comportamento social sob o mito poético, esse limite, todavia, dá testemunho de uma singular incompreensão do próprio objeto. Se, com efeito, algo caracteriza de forma exemplar o fenômeno occitânico, é justamente que Eros e poesia nele estão conjugados de modo indissolúvel; e isso não por que a poesia trovadora seja expressão de certo comportamento social cujo desconhecimento faz com que ela permaneça ininteligível, mas porque Eros e poesia aí estão entrelaçados e envolvidos (entrebescat, para usar um termo trovador) em um círculo no interior do qual tanto o texto poético aparece como o único lugar oferecido à realização do desejo erótico quanto a experiência erótica como o fundamento e o sentido da poesia. O poemeto Lo chastel d’amors parece exprimir essa união em uma alegoria até demasiadamente explícita:
Quest chastel hai fatz ab sen
ab gran costz de...
e ab tal enchantamen
que hom no-l ve se no-l ten
de ditz e de pessamen
.........
Dinaz lo chastel seguranh
estan cellas a cui tanh
cui presz ni joi no sofranh
toz lur sojorn e lur banh
son ditz e messatg’ estranh
qi da loing lur son trames.[7]
E o próprio joi, esse termo tão discutido no qual se reassume a plenitude edênica do Eros trovador, não é inteligível senão no interior da experiência poética em que o situam os trovadores[8], e, se a hipótese de Camproux[9] é exata, ele é também etimologicamente conexo a uma prática linguística (Joi de Jocus, oposto, como jogo de palavras, a ludus, jogo corpóreo).
A arbitrária fratura entre uma realidade social do amor cortês, por um lado, e uma série de textos poéticos em que esse amor teria encontrado expressão, por outro, impede justamente de apreender o centro da experiência trovadora, na qual o amor se liga à palavra poética segundo uma tradição à qual ainda Dante é fiel quando declara, na Vita nova, que o fim e a beatitude de seu amor está "naquelas palavras que louvam a minha mulher”[10]. A herança que a civilização occitânica transmitiu à cultura ocidental não é tanto certa concepção do amor (que, de resto, apesar das análises de Nelli, permanece obscura) quanto o nexo Eros-linguagem poética, o entrebescamen de desejo e poesia. E caso se quisesse procurar, nos traços exemplares de Spitzer, um trait éternel da poesia românica, é certo que justamente esse nexo poderia fornecer o paradigma capaz de explicar tanto o troblar clos, como "tendência especificamente românica para a forma preciosa”[11], quanto a análoga tendência da poesia românica para uma autossuficiência e uma dimensão absoluta do texto poético. O trobar é clos porque é em seu fechado círculo que se celebra a união sem fim do desejo e de seu fantasmático objeto, enquanto a concepção tipicamente medieval do caráter fantasmático do amor encontra sua resolução e seu apagamento em uma prática poética (o "gioi che mai non fina”, de Guittone). O texto poético é o único asilo oferecido a um amor de lonh “que não quer possuir o próprio estado de não possuído”[12], porque é em seu fechado espaço que Eros procura apropriar-se poeticamente do que de outro modo não poderia ser nem apreendido nem gozado. Enquanto esse essencial entrebescamen textual de desejo e palavra poética não for compreendido e explorado, qualquer tentativa de reconstituir um suposto costume erótico occitânico passa simplesmente ao lado do fenômeno trovador.
Se a França – herdeira, de Scève a Mallarmé, do trobar clos provençal – assiste hoje a um despertar do interesse pela poesia occitânica, e se a cultura inglesa moderna desta se aproximou na época de Pound, ainda que com equívocos talvez inevitáveis, na Itália, apesar de uma escola de filologia românica que nos deu alguns das mais resistentes edições críticas de textos trovadores, a experiência dos trovadores não chegou nem mesmo a arranhar a cultura poética moderna. Esse recalque já está presente no projeto de De Sanctis de uma história literária nacional, na qual nenhum espaço é deixado às "vazias generalidades dos trovadores”, e isso é ainda mais aberrante uma vez que a poesia italiana é geneticamente ligada à provençal por um vínculo que ainda é vivo e operante em Dante. A ruptura acontece apenas ao longo dos séculos XIV e XV, entre Petrarca e o despertar dos estudos provençais no século XVI com Cariteo, Bembo e Barbieri.
Uma relação autêntica com a experiência trovadora deve, portanto, ser religada no ponto em que a deixou Dante, no qual ele estabelece sua relação pessoal com Arnaut Daniel e com o mundo provençal, isto é, formalmente, no trobar clos das Rime Petrose, e, criticamente, no canto XXVI do Purgatório. Não é por acaso que Arnaut, como representante por excelência do projeto erótico-poético trovador, seja situado por Dante no limite da montanha do Purgatório, exatamente no limiar intransitável do Éden, e Matilda, a “mulher enamorada” que Dante aí encontra, é, de fato, o símbolo da inocência edênica e, ao mesmo tempo, a cifra do objeto impossível da poesia e do eros trovador: por isso, ela, verdadeiro senhal, é apresentada por Dante em termos estilizados e impessoais, e por isso, como já foi observado, todo o episódio lembra muito a “pastorella” provençal e cavalcantiana[13]. O "pecado hermafrodita"[14] e o “não servimos humana lei”, que Guido Guinizelli remete a si e a Arnaut, aludem ao projeto trovador de atingir em uma experiência terrena o "doce jogo” do inocente amor edênico, a joi que para o Dante da Comédia permanece interditada à condição humana.
É aí, no limiar do Éden, na tensão atualíssima em direção a um projeto impossível, que uma tradição poética italiana que tivesse tomado consciência de si e das próprias origens poderia retomar o diálogo suspenso com a experiência dos trovadores.
Resenha crítica de L’erotique des troubadours, de René Nelli (Paris: Union Génerale d'edition, 1974) publicada por Agamben na revista "Settanta", anno 6, n. 1, CEI, Milano, gennaio-marzo 1975, pp. 85-88.
Trad.: Vinícius N. Honesko
[1] Raynouard: Choix des poésies originale des troubadours. Paris: 1816-1821, 6 vol. Fauriel: Histoire de la poésie Provençale. Paris: 1846, 3 vol.
[2] Anglade: Les troubadours, Toulouse-Paris: 1934, 2 vol.
[3] Les troubadours, textes et traductions par R. Nelli e R. Lavaud. Paris: 1966.
[4] Nelli: L'érotique des troubadours. cit., p. 11. ("Entendemos por erótica provençal o conjunto das teorias e das condutas socializadas que, no sul da França e em diversos países da Europa influenciados pela cultura occitânica, durante trezentos anos – do início do século XII ao fim do XIV – regularizam a tendência sexual e deram um novo sentido à ideia de Amor... a erótica provençal por nada pode ser reduzida à literatura que ela suscitou... O Amor provençal é, portanto, um fenômeno social que deve ser estudado e explicado como tal.")
[5] Op. Cit. p. 24. ("encontrar sob os mitos poéticos lucidamente elaborados os comportamentos cerimoniais primitivos que os fundaram no social.")
[6] Nelli cita paralelos etnográficos a essa prática ascética; todavia, o medievo cristão oferece paralelos suficientemente iluminantes, como o costume das virgines subintroductae que coabitavam com os ascetas cristãos. A passagem do Roman de la rose (17022-28) sobre a lendária castração de Orígenes alude, com o nome de dames de religion, a uma prática desse gênero:
Origenés, qui les coillons
se copa, po me reprisa
quant a ses mains les ancisa
por server en devocion
les dames de religion...
[7] "Esse castelo o fiz com o sentido / com grande custo de... / e com tal encanto / que ninguém pode vê-lo se dele não toma posse / através de palavras e imagens mentais / ... No castelo seguro / estão aquelas a que pertenço / que jamais faltam Joi e valor / toda sua estada e seu banho / são palavras e mensagens estranhas / que de longe são mandados"
[8] Cf. Wettstein: Mezura, l'ideal des troubadours. Zurich: 1945: “le joi est sentiment ésthetique de la perfection de l’être, don't l'expression plus intime est le chant”. ("a joi é sentimento estético da perfeição do ser cuja expressão mais íntima é o canto”)
[9] Cf.: Camproux: La joie civilisatrice des troubadours. La table ronde, n. 97; gennaio 56.
[10] Vita Nova, XVIII.
[11] L. Spitzer: L'interpretazione linguistica delle opere letterarie. Trad. it. in. Critica stilistica e semântica storica, Bari: 1965.
[12] L. Spitzer: L'amour lointain de Jaufré Rudel et le sens de la poésie des troubadours. Studies in the romance language and literature, V, 1944.
[13] Cf. as observações de Singleton em Journey to Beatrice. Cambridge: 1958, cap. XII, e de Barnes: Dante’s Matelda, Italian studies, XXVIII, 1973.
[14] É singular que essa expressão seja com tanta frequência compreendida ainda hoje pelos comentadores apenas como sinônimo de amor intersexual. Muito melhor era a visão de Landino, que em seu comentário alude a um amor perverso no qual “um e outro se unem enquanto macho e fêmea, de forma que possam ser chamados hermafroditas”. Na realidade, parece lícito entrever aí uma referência à passagem do Evangelho de Tomás sobre o reino dos céus (log. 22): “quando fizerdes de dois um, e o interior como exterior... e quando fizerdes uma só do macho e da fêmea, de modo que o macho não será mais macho e a fêmea não será mais fêmea...".
[1] Raynouard: Choix des poésies originale des troubadours. Paris: 1816-1821, 6 vol. Fauriel: Histoire de la poésie Provençale. Paris: 1846, 3 vol.
[2] Anglade: Les troubadours, Toulouse-Paris: 1934, 2 vol.
[3] Les troubadours, textes et traductions par R. Nelli e R. Lavaud. Paris: 1966.
[4] Nelli: L'érotique des troubadours. cit., p. 11. ("Entendemos por erótica provençal o conjunto das teorias e das condutas socializadas que, no sul da França e em diversos países da Europa influenciados pela cultura occitânica, durante trezentos anos – do início do século XII ao fim do XIV – regularizam a tendência sexual e deram um novo sentido à ideia de Amor... a erótica provençal por nada pode ser reduzida à literatura que ela suscitou... O Amor provençal é, portanto, um fenômeno social que deve ser estudado e explicado como tal.")
[5] Op. Cit. p. 24. ("encontrar sob os mitos poéticos lucidamente elaborados os comportamentos cerimoniais primitivos que os fundaram no social.")
[6] Nelli cita paralelos etnográficos a essa prática ascética; todavia, o medievo cristão oferece paralelos suficientemente iluminantes, como o costume das virgines subintroductae que coabitavam com os ascetas cristãos. A passagem do Roman de la rose (17022-28) sobre a lendária castração de Orígenes alude, com o nome de dames de religion, a uma prática desse gênero:
Origenés, qui les coillons
se copa, po me reprisa
quant a ses mains les ancisa
por server en devocion
les dames de religion...
[7] "Esse castelo o fiz com o sentido / com grande custo de... / e com tal encanto / que ninguém pode vê-lo se dele não toma posse / através de palavras e imagens mentais / ... No castelo seguro / estão aquelas a que pertenço / que jamais faltam Joi e valor / toda sua estada e seu banho / são palavras e mensagens estranhas / que de longe são mandados"
[8] Cf. Wettstein: Mezura, l'ideal des troubadours. Zurich: 1945: “le joi est sentiment ésthetique de la perfection de l’être, don't l'expression plus intime est le chant”. ("a joi é sentimento estético da perfeição do ser cuja expressão mais íntima é o canto”)
[9] Cf.: Camproux: La joie civilisatrice des troubadours. La table ronde, n. 97; gennaio 56.
[10] Vita Nova, XVIII.
[11] L. Spitzer: L'interpretazione linguistica delle opere letterarie. Trad. it. in. Critica stilistica e semântica storica, Bari: 1965.
[12] L. Spitzer: L'amour lointain de Jaufré Rudel et le sens de la poésie des troubadours. Studies in the romance language and literature, V, 1944.
[13] Cf. as observações de Singleton em Journey to Beatrice. Cambridge: 1958, cap. XII, e de Barnes: Dante’s Matelda, Italian studies, XXVIII, 1973.
[14] É singular que essa expressão seja com tanta frequência compreendida ainda hoje pelos comentadores apenas como sinônimo de amor intersexual. Muito melhor era a visão de Landino, que em seu comentário alude a um amor perverso no qual “um e outro se unem enquanto macho e fêmea, de forma que possam ser chamados hermafroditas”. Na realidade, parece lícito entrever aí uma referência à passagem do Evangelho de Tomás sobre o reino dos céus (log. 22): “quando fizerdes de dois um, e o interior como exterior... e quando fizerdes uma só do macho e da fêmea, de modo que o macho não será mais macho e a fêmea não será mais fêmea...".
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