Francis Picabia. L´oeil cacodylate, 1921.
Coma-me espelho!
Digira-me e sinta o ranço da minha carne!
Pois o que quero é ver
É me ver comido,
é aproveitar-me no seu íntimo!
Ó superfície bárbara!
Que tua lisura se encha com minhas fezes!
Faça com que me veja assim, como "sou"!
Um entulho atordoado por tantos de vós.
Ah espelho, faça de mim o meu outro!
Rogo para que sejas gentil
e mastigue minha carne com doçura.
Não me cuspa nesta merda que existe,
aqui do lado de cá da sua deliciosa boca.
Ah espelho, ah como sinto tua ausência.
Não podes me acompanhar, sempre?
Não podes cagar-me do lado de lá?!?
Que minha carne seja o motivo de tua indigestão.
Ó espelho, coma-me, mas depressa,
antes que a fedentina daqui entre na tua morada.
Aquele idiota do Narciso já teve seus regozijos,
deixe-te agora saborear minha putrefata carne.
Coma-me, mas não me vomite:
ainda não estou morno, olhe, estou quentinho!
Coma-me e faça de mim sua obra, obra-me!
Amém
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