"O abismo entre nós e deus está cheio do escuro de deus e, quando alguém o prova, deve calar-se e gritar em tal abismo (é mais necessário isso do que o atravessar)." Rilke e seu deus absconditus passeam de mãos dadas. Nebulosa noite em que a luz do sonho não se apaga - e há luz onde a noite escura insiste em fazer calar? Panteras correm e não me deixam ver senão seus olhos: assustadores, mas ao mesmo tempo perplexos; inquisidores, mas com uma pitada de comoção. Relaxo a cabeça nestes travesseiros desgastados por cabeças que jamais conhecerei. Vejo o abismo como talvez nunca antes. Silêncio, palavras: o palavrório mordaz desses seres que jazem - vivem mortos - nos seus trajetos abismais e quotidianos. Onde está o escuro de deus?! Corremos o risco de atravessá-lo sem nem mesmo perceber aqueles ferozes olhos da pantera. Sou eu quem grito! É o espanto da existência. Despertar...
Imagem: Hieronymus Bosch. Inferno: a queda dos condenados. 1500-1504. Palazzo Ducale, Venezia.
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