domingo, 16 de outubro de 2011

Paul Gauguin



Gauguin ao trabalho. O esotérico, desertado e deserdado artista, à beira da morte, com a feitura solitária de sua última e prima obra, o retrato da própria filha, na distante Dinamarca, que nunca voltará a ver. Lágrimas misturam-se às cores da palheta. O calvário transmuta-se em tintas e cavalete em meio a uma praia vazia. Resplandece a luz tropical em seu silêncio de morte.

Uma filha que em breve também morrerá, sem poder ter visto o retrato.


Ele sabe disso.


A última obra de Gauguin não deixou vestígios, foi queimada.

Sua obstinação fracassada é o marco de toda e qualquer obra que pretenda ser algo além dela mesma.


A inutililidade de seu gesto é a obra total, gesto de Sísifo que, ao rolar mais uma vez a pedra para cima dos despenhadeiros, condena todos os deuses e destinos no vazio impenetrável de uma provocação desesperada.


Seu tardio e humilde despertar é saber a arte como traço que as ondas do mar também apagarão.

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