Acendo a luz de um quarto escuro: de fato, o quarto iluminado não é mais o quarto escuro, que perdi para sempre. No entanto, não se trata do mesmo quarto? Não é, portanto, o quarto escuro o único conteúdo do quarto iluminado? O que não posso mais ter, o que infinitamente recua ao infinito e que, ao mesmo tempo, lança-me para frente é somente uma representação da linguagem, o escuro pressuposto à luz; mas se abandono a tentativa de apreender esse pressuposto, se volto minha atenção para a própria luz, se a recebo - então o que a luz me dá é o mesmo quarto, o escuro não hipotético. O único conteúdo da revelação é o que está fechado em si, o velado - a luz é somente a chegada do escuro a si próprio.
Giorgio Agamben. Idea della luce. in.: Idea della prosa. Macerata: Quodlibet, 2001. p. 109. Tradução: Vinícius Nicastro Honesko
Imagem: Marc Riboud. CHINA. Yunnan province. Bed of MAO TSE-TUNG in cave. 1965.
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