Mas o que é este campo virtual e estilhaçado que chamamos linguagem? Será mesmo algo que exista como ato, configurado em estruturas palpáveis (mesmo que não totalmente lógicas nem sistemáticas), ou um mero pressuposto insubsistente que paira simplesmente pela acomodação dos tempos culturais? Não será o dizer (o enunciar) possível apenas nesta falha (ilusória) a ser sempre suturada em um tecido (inexistente)? Não precisamos dispor de mitos a todo instante para expor uma vida que pulsa irredutível a todo mito, e nisso torná-la anônima mas, simultaneamente, dotada de permanência? O que é a linguagem senão um nada que precisamos a todo momento mover, fazer falar, adquirir “vida” própria (que chega a simular uma presença independente dos atos concretos de sua produção e possibilidade), a ponto de produzir a grande estereotipia do léxico, da sintaxe e da gramática como um todo? A linguagem, este fantasmagórico e astucioso Golem causador de transtornos e deslumbres a seu criador. Nada.
Imagem. Henri Cartier-Bresson MEXICO. Popocatepetl volcano. 1963.