Mas, mesmo sendo a intrusão uma tentativa tosca de sutura do caos primordial e louco do mundo extenso irremediável, delimitação sedentária de tocas obscuras para o abrigar-se da covardia, anomalia frente ao devir ininterrupto e renovador do ser, ela, no parque temático da administração total forjada como forma de vida única no presente, tornou-se a regra suprema, o dever inabalável: Seja! Faça! Torne-se! Construímos aquários nos longínquos do oceano. Tornamo-nos presas fáceis, dóceis, domesticadas, dos poderes que, até isso!, já interiorizamos e corporificamos. Tal configuração (a despeito da abissal contingência que nos lançou até aqui) faz com que seja cada vez mais arriscada a opção do nomadismo. Amiúde o viajante correrá riscos efetivos (e não metafóricos) de ver a provisória tenda destruída e sua vida exterminada pelo mais banal dos indivíduos em qualquer esquina. Os dispositivos de controle prescindem hoje de aparatos solenes, institucionalizados. Qualquer cretino fará o trabalho sujo. Não precisará ser persuadido nem mesmo receber recompensas para isto.
Bastaria uma pequena olhadela pelo satélite: o terreno do mundo, no sentido literal do termo, está sitiado. Em seu lugar: terrenos domésticos e sedentarização. Espera-se a morte na plácida calma do minifúndio. Porém, há os deslocados, os sedentários sem casa, os Ulisses na busca por suas Ítacas. Os nômades, por seu turno, repudiam casas e Ítacas por chegar. Querem é andar por entre os lotes e escombros, arrebentar e pular cercas, embaralhar demarcações, dormir a céu aberto. Nem senhores, nem exilados Ulisses. São os raros.