sábado, 16 de junho de 2007

À memória de L. Bloom.


“Tu, enquanto forjavas,
nas cidades do desterro,
naquele desterro que foi
teu detestado e escolhido instrumento,
a arma da tua arte,
construías teus labirintos,
infinitesimais e infinitos,
admiravelmente mesquinhos,
mais populosos que a história.”

Invocação a Joyce. Jorge Luis Borges (“Elogio da Sombra”)



Mnemolembro

Escritaestaticautomatica
torpor de frágeis nervos

tamborilar nasintaxe
aspirar o pestilentoespectro
chafurdar no conceptus
E lançar-se ao etéreo de um concreto

Mas ai, evaporam-se-me as reminiscências!
Presto cultos pagãos ao deus Acaso,
E a Fortuna lança-me, com que constância!, nas cômicas encruzilhadas
Do Minotauro que matou Teseu[1]

Ariadne foi minha puta na última esquina
Gastei com ela o vintém ganho no coup de des
Jogado mallamercadoramente em algum cassino barato desse labirinto
(quiçá pelo próprio diabo de paletó de pelica)
Ces’t une sazon en enfer, la vie...

Naufrago e usufruo da lotus letárgica
Com o sátiro Ulisses lotófago
(Porcos nos espreitam por todos os lados
amarrados no mastro de uma nau)

conta-me históriashistéricas odisséicas
de sereias que o mataram de rir
e de Sancho que Pança, seu fiel apóstolo,
que o ajudou de Ítaca a se evadir.

Vis nigromantes o impeliram à segunda fuga
Além das homéricas cavalarias da ilíada
Das quais também oniricamente pugnou


Enquanto escuto cubro-me nos fios da teia de Penélope
mesmo rotos, puídos, sujos
Sorrateiramente o furtei de seu rend-vouz.
Molhada mortalha de lágrimas ao tempo
(De uma memorável futura caftina)

Usá-la-ei como sudário
Para embalar o porco-amigo-morto de Ulisses

Empanturrópiou-se.

E será justamente a travessia do Dom Lotófago Mor
Logo o matarei com minha escrita automática.
Está carregada, destravada:

Odisseu, Overdose.


jnf. 5.05.07




[1] descaso do acaso? descasco.
caso conandoyleano: cascos minotáuricos
réu confesso: bovino in veritas.

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