Giovanni Serodine
۞ O termo parábola vem do grego parabolē (Gleichnis, na tradução de Lutero). Este termo tem, nos evangelhos, uma função a tal ponto importante em referência aos discursos de Jesus – enquanto ele “fala em parábolas” (Mt 13, 10) – que é dele que deriva nas línguas romanas (provençal, francês e italiano; o espanhol hablar deriva por outro lado de fabulari) o verbo que significa “falar” (do baixo latim parabolare). O termo correspondente, em hebraico, é mašal, que quer dizer “comparação, provérbio”. Uma correspondência entre a estrutura da parábola e o reino messiânico está já contida de maneira implícita na passagem de Mt (13, 18-19) na qual o “discurso do reino” (logos tēs basileias) é aquele que torna necessário falar por parábolas. A parábola do semeador, que se trata então de explicar, concerne precisamente a este logos, na medida em que os grãos representam a própria linguagem (na exegese de Marcos, 4, 13: “o semeador semeia o logos”). Na série de parábolas que seguem, o reino messiânico é comparado a um campo onde crescem juntos o bom grão e o joio, a um grão de mostarda, à levedura, a um tesouro escondido num campo, a um mercador à procura de uma pérola, a uma rede jogada ao mar. Jungel observou a esse respeito que “o reino de Deus se exprime na parábola enquanto parábola” (Jungel, 385), de tal maneira que vêm expostas juntas a diferença e a proximidade entre o reino de Deus e este mundo. Na parábola, a diferença entre o signum e a res significata tende então a se anular, sem, no entanto, desaparecer completamente. Nesse sentido, pode-se dizer que – como na parábola do semeador de Mateus – as parábolas messiânicas são sempre parábolas sobre a linguagem, isto é, sobre a representação do reino, no qual ao ser colocados um ao lado do outro (para-ballō), não são tanto o reino e seu termo de comparação, mas também o discurso sobre o reino e o próprio reino, de tal maneira que a compreensão da parábola coincide com aquela do logos tēs basileias. Na parábola messiânica o signum e a res significata se aproximam, porque nela a coisa significada é a própria linguagem. E este é sem dúvidas o sentido – mas também a inevitável ambigüidade – da parábola kafkiana, e de toda parábola. Se, na parábola, o que deve advir é uma passagem além da linguagem, e se isso só é possível, segundo Kafka, fazendo-se linguagem (“se vós obedeceis às parábolas, tornar-vos-ei, vós mesmos, parábolas”), tudo depende do momento e da maneira em que o como é abolido.
Decisivo, nessa perspectiva, é que Paulo não apenas se serve raramente de parábolas no sentido técnico, mas o como não – que define para ele a klēsis messiânica – não compara, como vimos, dois termos distintos, mas coloca em tensão cada ser e cada termo consigo mesmo. O evento messiânico – que, para Paulo, já se produziu com a ressurreição – não se exprime como uma parábola na parábola, mas é presente en tō num kairō enquanto revogação de toda condição mundana que ela libera dela mesma para permitir o seu uso.
۞ O termo parábola vem do grego parabolē (Gleichnis, na tradução de Lutero). Este termo tem, nos evangelhos, uma função a tal ponto importante em referência aos discursos de Jesus – enquanto ele “fala em parábolas” (Mt 13, 10) – que é dele que deriva nas línguas romanas (provençal, francês e italiano; o espanhol hablar deriva por outro lado de fabulari) o verbo que significa “falar” (do baixo latim parabolare). O termo correspondente, em hebraico, é mašal, que quer dizer “comparação, provérbio”. Uma correspondência entre a estrutura da parábola e o reino messiânico está já contida de maneira implícita na passagem de Mt (13, 18-19) na qual o “discurso do reino” (logos tēs basileias) é aquele que torna necessário falar por parábolas. A parábola do semeador, que se trata então de explicar, concerne precisamente a este logos, na medida em que os grãos representam a própria linguagem (na exegese de Marcos, 4, 13: “o semeador semeia o logos”). Na série de parábolas que seguem, o reino messiânico é comparado a um campo onde crescem juntos o bom grão e o joio, a um grão de mostarda, à levedura, a um tesouro escondido num campo, a um mercador à procura de uma pérola, a uma rede jogada ao mar. Jungel observou a esse respeito que “o reino de Deus se exprime na parábola enquanto parábola” (Jungel, 385), de tal maneira que vêm expostas juntas a diferença e a proximidade entre o reino de Deus e este mundo. Na parábola, a diferença entre o signum e a res significata tende então a se anular, sem, no entanto, desaparecer completamente. Nesse sentido, pode-se dizer que – como na parábola do semeador de Mateus – as parábolas messiânicas são sempre parábolas sobre a linguagem, isto é, sobre a representação do reino, no qual ao ser colocados um ao lado do outro (para-ballō), não são tanto o reino e seu termo de comparação, mas também o discurso sobre o reino e o próprio reino, de tal maneira que a compreensão da parábola coincide com aquela do logos tēs basileias. Na parábola messiânica o signum e a res significata se aproximam, porque nela a coisa significada é a própria linguagem. E este é sem dúvidas o sentido – mas também a inevitável ambigüidade – da parábola kafkiana, e de toda parábola. Se, na parábola, o que deve advir é uma passagem além da linguagem, e se isso só é possível, segundo Kafka, fazendo-se linguagem (“se vós obedeceis às parábolas, tornar-vos-ei, vós mesmos, parábolas”), tudo depende do momento e da maneira em que o como é abolido.
Decisivo, nessa perspectiva, é que Paulo não apenas se serve raramente de parábolas no sentido técnico, mas o como não – que define para ele a klēsis messiânica – não compara, como vimos, dois termos distintos, mas coloca em tensão cada ser e cada termo consigo mesmo. O evento messiânico – que, para Paulo, já se produziu com a ressurreição – não se exprime como uma parábola na parábola, mas é presente en tō num kairō enquanto revogação de toda condição mundana que ela libera dela mesma para permitir o seu uso.
Giorgio Agamben, Il Tempo che Resta. Torino: Bollati Boringhieri, 2000. pp. 45-46. Tradução: Vinícius Nicastro Honesko
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