Jogado num canto vazio de uma dessas salas da existência passo as horas. Sinto o frio do piso. Um frio invasivo, pegajoso, soturno como o rato apodrecido logo ali. Rato. Eu que o comi? Morreu e apodreceu sem que eu tivesse participado desse enredo? História suja, piso frio.
A hora do medo. Medo de que? Vida e morte... mais um dos pares dialéticos. A fedentida me enoja e horroriza. Quero distanciar-me dessa sala, quero a certeza de que o frio é irrisório e risível. De nada adianta. As pegadas que deixei na entrada da sala não podem ser apagadas. Cá estou, dentro. A luz branca está acesa; os candelabros são inúteis e, por isso, estão vazios; as velas que acalentam não podem ali estar.
O piso frio me invade. Sou o piso. Mania de sentir-se vivo, mania de passar as horas, mania de olhar para as paredes dessa sala e tentar ver, tentar sentir, tentar não ser o piso. Branco. Palavra branca como a parafina das velas que deveriam ter sido queimadas. Já não estão mais lá. Vazios estão os candelabros. Clamores pelo arredio são sons inuteis que bajulam e fazem rir. Rir pela dor da prisão... Fogo da vida, fogo da morte... consomem, consomem-se. Dialética da prisão. E ali está o rato...
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