Gleichnis von den Blinden, Pieter Brueghel, 1568.
“La Poesia era la palabra... Mas cuando los mercaderes y los fariseos del templo la enturbiaron y la corrompieran utilizándola para encomiar sus mercancías y acatar las ordenes injustas del Sumo Sacerdote... Cristo habló en parábolas... La parábola... aún no está corrompida.” León Felipe. El Poeta Prometeico.
O poeta prometeico fala, poetiza por parábolas. A parábola escapa ao jogo mercadológico, oikonomico, das trocas nefastas no qual a palavra se colocou; mas a parábola é o que se parece, a ressemblance, com o que é falado; é semelhança que afasta e dá ao parecido a sua forma singular, sua forma em imagem. Como um personagem imaginário, o poeta prometeico tem o semblante voltado para sua efemeridade e faz pantomima da verdade cósmica universal; não traça o logos, a Palavra, mas fala por Gleichnis, por semelhança, a partir da qual abre os olhos para ver a morte própria – sabe que seu cadáver (Leiche) já está consigo – e a morte espelhada nas coisas, nas paredes do mundo. O seu rosto carrega o peso da perda de si diante da semelhança que seu eu encara, isto é, na sua transitoriedade, de modo a poder ver a morte que se reflete nas coisas e a sentir o peso do tempo que está nessa distância dele consigo mesmo. O poeta prometeico inicia a história rompendo o círculo do eu que se identifica com o seu eu reflexo. Não crê na identidade e verdade de uma palavra que diz justamente a verdade unívoca das coisas; sabe que é dividido em si mesmo, que está numa contenda política consigo mesmo, pois, uma vez que ingressou na linguagem, sabe que o seu gesto poético não pode ser neutro e que só lhe resta um princípio de divisão infinita do qual não há saída (ele só é ressemblance, imagem, de si) apenas uma fuga, um constante movimento.
O poeta prometeico diz parábolas, pois sabe, de antemão, que seu corpo já padeceu sob os auspícios de algozes; sabe que para reconhecer seus pares, não é preciso aceitar a apresentação das vísceras como única forma de pertencimento à conjunção de coisas públicas (sua contenda é política desde o seu interno: sua própria divisão – o afastamento da mão da parede e seu consequente vestígio que nos chega ainda do tempo das cavernas). Da tortura e da estripação sacrificial ele tenta passar longe; essa é a tentativa de fazer com que os portadores dos rostos invisíveis não necessitem mais passar à exposição do interno: o externo e o interno não mais se contradizem e não precisam mais da expiação para terem seus lugares. Um se dobra no outro, sem ângulos e sem vértice, diria Murilo Mendes na sua Parábola, sem a esperança de uma retidão normativo-moralista, mas de maneira oblíqua e perifrástica, na tentativa de escapar de uma oikonomia dos corpos cujo único escopo é aguardar a vida do outro corpo, o glorioso e que, enquanto aguarda, só consegue manter-se com o eterno sacrifício diário do corpo – Hoc est enim corpus meum – num rito massacrante (o Reino) e aos olhos de todos (a Glória).
O poeta prometeico fala, poetiza por parábolas. A parábola escapa ao jogo mercadológico, oikonomico, das trocas nefastas no qual a palavra se colocou; mas a parábola é o que se parece, a ressemblance, com o que é falado; é semelhança que afasta e dá ao parecido a sua forma singular, sua forma em imagem. Como um personagem imaginário, o poeta prometeico tem o semblante voltado para sua efemeridade e faz pantomima da verdade cósmica universal; não traça o logos, a Palavra, mas fala por Gleichnis, por semelhança, a partir da qual abre os olhos para ver a morte própria – sabe que seu cadáver (Leiche) já está consigo – e a morte espelhada nas coisas, nas paredes do mundo. O seu rosto carrega o peso da perda de si diante da semelhança que seu eu encara, isto é, na sua transitoriedade, de modo a poder ver a morte que se reflete nas coisas e a sentir o peso do tempo que está nessa distância dele consigo mesmo. O poeta prometeico inicia a história rompendo o círculo do eu que se identifica com o seu eu reflexo. Não crê na identidade e verdade de uma palavra que diz justamente a verdade unívoca das coisas; sabe que é dividido em si mesmo, que está numa contenda política consigo mesmo, pois, uma vez que ingressou na linguagem, sabe que o seu gesto poético não pode ser neutro e que só lhe resta um princípio de divisão infinita do qual não há saída (ele só é ressemblance, imagem, de si) apenas uma fuga, um constante movimento.
O poeta prometeico diz parábolas, pois sabe, de antemão, que seu corpo já padeceu sob os auspícios de algozes; sabe que para reconhecer seus pares, não é preciso aceitar a apresentação das vísceras como única forma de pertencimento à conjunção de coisas públicas (sua contenda é política desde o seu interno: sua própria divisão – o afastamento da mão da parede e seu consequente vestígio que nos chega ainda do tempo das cavernas). Da tortura e da estripação sacrificial ele tenta passar longe; essa é a tentativa de fazer com que os portadores dos rostos invisíveis não necessitem mais passar à exposição do interno: o externo e o interno não mais se contradizem e não precisam mais da expiação para terem seus lugares. Um se dobra no outro, sem ângulos e sem vértice, diria Murilo Mendes na sua Parábola, sem a esperança de uma retidão normativo-moralista, mas de maneira oblíqua e perifrástica, na tentativa de escapar de uma oikonomia dos corpos cujo único escopo é aguardar a vida do outro corpo, o glorioso e que, enquanto aguarda, só consegue manter-se com o eterno sacrifício diário do corpo – Hoc est enim corpus meum – num rito massacrante (o Reino) e aos olhos de todos (a Glória).
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