domingo, 22 de junho de 2014

Poema em prosa


A J.

Em sonho, o peso dos sopros ganham a dimensão das palavras. Qual a palavra para dizer que palavras nada dizem? Qual o peso de uma palavra? Em sonho, seu respirar abrasava meu rosto, mas era a escuridão da noite, tão profunda quanto seus olhos. Olhos estes que dizem palavras capazes de, talvez, ensinar-me o peso de uma palavra. Arredio, peço distância do cálice, quero mais uma vez os sopros, a voz sonhada. Nas noites no quarto úmido costumo carregar, em meu peito sonolento, seus sonhos em névoa. Qual o peso de uma palavra? Com seus silêncios encho meus olhos e arrisco atravessar oceanos que, um dia, num pequeno mapa, cartografei com minhas letras tortas. Como pude dizer seus olhos? Como pude navegar a escura imensidão que deles brotava? O cálice ainda está ao meu alcance e, talvez, não haja pai para afastá-lo.   

Imagem: Vincent Van Gogh. O semeador. 1888. Van Gogh Museu, Amsterdã.

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