Há sempre um limite imposto pela noite aos sonhos. Toco algumas metamorfoses pela manhã e logo vejo que "há sempre um amor procurando seu nome / Na solidão do livro dos tempos". Mas a saudade é só uma forma de perceber o tempo envelhecendo e, nas costas de um dos anéis de Saturno, ainda sentir uma brisa de ventos que sopram dos vívidos sonhos barrados pela aurora. Uma maneira de inventar (ou inventariar) as formas já deformadas, um suspiro que exala todo o ar do mundo, um livro de páginas em branco, de páginas com o angustiante branco que metamorfoseia o absoluto, o sem sentido da escuridão que domina todos os horizontes. O nome, mas qual? Tentei escrevê-los todos à margem dos livros que amo, mas desisti. O nome me assombrou e apenas me sobraram os ventos da brisa de uma além já tão desgastado por todas as histórias que tentam dar nomes às aventuras da memória. Provo a vertiginosa escalada no muro dos sonhos, das memórias e das noites, mas só consigo alcançar o cume de minha própria impotência. E o rosto que gostaria de dizer só pôde ser desenhado uma vez, num lugar onde jamais pus meus pés, e o suspiro que fez o mundo acabou com o despertar, e toda escrita desfez-se em letras soltas no infinito sem sentido que as compõe. Desperto, inerte, na solidão, no vasto amor que é só procura, essa insolente procura por aquilo que, sabemos bem, jamais iremos encontrar.
Imagem: Paul Gauguin. A água misteriosa (Pape Moe). 1893. Art Institute, Chicago.
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