Conjugar o verbo amar é tocar as bordas do impossível, traçar seus esboços, fingir entender a vida. Mas fingere não é a porta à ficção? E não é a ficção a entrada da vida destes animais falantes que somos? É sempre a distância a dominar nosso corpo, e são as palavras que preenchem cada frase os alforjes vazios a nos iludir com possibilidades. De que valem a vontade de dizer e os desenhos de amor se valer pode ser só mais um verbo intransitivo? Nenhuma conjugação do amor é suficiente para libertar essa sensação que vem do balanço deste ônibus que nos leva ao único possível: o distante. Aí, nesse lugar algum, os verbos são conjugados sem a preocupação do sentido e a vida transcorre em seu leito vaporoso, etéreo, tocando coisas silenciosas e apagando os rastros disso que um dia ousamos dizer amor.
Imagem: Pieter Brueghel (o jovem). Dois casais camponeses. 1600-10.
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