jonnefer barbosa
Partir,
de novo,
dali onde estamos,
agora.
Tiqqun - Comment faire (Como fazer)
1. O bailado niilista do deus morto esgotou-se. O Sujeito também morreu, mas não foi superado o niilismo deste fim. As tentativas de incutir vida a uma máscara mortuária - as evocações niilistas de uma "Humanidade" irrecuperável - são hoje perceptíveis em vulgares aclamações, seja ao líder fascista ou ao avatar superpop da rede social. De trump à bunda de kim kardashian, insígnias de um niilismo superesgotado.
Diante do desespero do niilismo narcísico, restabelecer o contato entre devires anônimos e forças comuns.
Diante do desespero do niilismo narcísico, restabelecer o contato entre devires anônimos e forças comuns.
Sem nostalgias ou ressentimentos.
2. Forma-de-vida não é um conceito forte, apesar das intenções de Agamben. Tanto forma (o outro da matéria) quando o próprio conceito de potência (o outro do ser em ato) carregam consigo resíduos mitológicos da máquina. Hífens não atam o que desde sempre está cortado. A Messalina ou o Supermacho de Jarry são forças|vida. Entidades.
3. Entidades são corpos sem órgãos. Elas não se referem à fraca ontologia da coisidade heideggeriana, muito menos são emanações de entes. Linhas de fuga à ontologia das formas e matérias, ao aristotelismo tomista-jesuítico-colonizador. Entidades são vidas imaginais-imanentes. Warburg, o alemão que delirou ser um índio mexicano, sonhava com entidades quando propôs o conceito de Nachleben. Uma canção, um golpe de capoeira, uma maneira de viver em conjunto. Um quilombo, uma ZAD, um caracol zapatista. Todas as entidades do candomblé.
Alguém, ninguém.
4. Não basta que no futuro Bolsonaro passe a faixa a Boulos. Brasília é resultado de uma imaginação delirante. Derrotar o bolsonarismo que nos atravessa exige restabelecer o contato entre nossos devires. Devir quilombo dos palmares, devir malês, devir cabanos, devir canudos, devir araguaia. Articulações com o que não adveio nesses passados destruídos, cujas cinzas ainda possuem brasas que podem colocar fogo no palácio.
5. Diante da hierarquia militar em moda no Brasil, com suas continências e comandos, proliferemos o gesto e a ética da insubordinação.
6. A tropicália e o desbunde como gesto político na década de 70 fizeram uso de uma fortalecida indústria cultural analógica e nacional. Retomar o desbunde como ancoragem política no tempo da pornotopia cibernética é fazer uma aposta demasiadamente trivial em um jogo de vida ou morte. Instagram e xvideos são feixes de um mesmo diagrama em cujo centro está a mais completa e indissolúvel financeirização e espetacularização do corpo humano. Apostar na estetização do corpo - ressuscitar a-historicamente Caetano Veloso e Zé Celso dos anos 70 -, como pretende uma certa esquerda micareta, é como tentar conter o aumento dos oceanos com baldes, mesmo que "coletivamente".
7. Não se faz uso da cibernética: urge derrotá-la, desativá-la.
8. As entidades são uma linha de fuga política e antropológica à dicotomia natureza e cultura.
9. Não há o corpo, apenas forças|vidas, entidades. O corpo sem atravessamentos históricos, sem a imanência que lhe circunscreve, é apenas soma (um cadáver, para os gregos). Contra as interdições dos neo-pentecostais instalados no palácio do planalto após 2019, não basta opor o escândalo de um corpo, seja supliciado ou nu. Urge restabelecer o contato entre devires anônimos e forças comuns nas quais os corpos são cintilações e intensidades.
Partir,
de novo,
dali onde estamos,
agora
Sem nostalgias ou ressentimentos.
1/1/19
3. Entidades são corpos sem órgãos. Elas não se referem à fraca ontologia da coisidade heideggeriana, muito menos são emanações de entes. Linhas de fuga à ontologia das formas e matérias, ao aristotelismo tomista-jesuítico-colonizador. Entidades são vidas imaginais-imanentes. Warburg, o alemão que delirou ser um índio mexicano, sonhava com entidades quando propôs o conceito de Nachleben. Uma canção, um golpe de capoeira, uma maneira de viver em conjunto. Um quilombo, uma ZAD, um caracol zapatista. Todas as entidades do candomblé.
Alguém, ninguém.
4. Não basta que no futuro Bolsonaro passe a faixa a Boulos. Brasília é resultado de uma imaginação delirante. Derrotar o bolsonarismo que nos atravessa exige restabelecer o contato entre nossos devires. Devir quilombo dos palmares, devir malês, devir cabanos, devir canudos, devir araguaia. Articulações com o que não adveio nesses passados destruídos, cujas cinzas ainda possuem brasas que podem colocar fogo no palácio.
5. Diante da hierarquia militar em moda no Brasil, com suas continências e comandos, proliferemos o gesto e a ética da insubordinação.
6. A tropicália e o desbunde como gesto político na década de 70 fizeram uso de uma fortalecida indústria cultural analógica e nacional. Retomar o desbunde como ancoragem política no tempo da pornotopia cibernética é fazer uma aposta demasiadamente trivial em um jogo de vida ou morte. Instagram e xvideos são feixes de um mesmo diagrama em cujo centro está a mais completa e indissolúvel financeirização e espetacularização do corpo humano. Apostar na estetização do corpo - ressuscitar a-historicamente Caetano Veloso e Zé Celso dos anos 70 -, como pretende uma certa esquerda micareta, é como tentar conter o aumento dos oceanos com baldes, mesmo que "coletivamente".
7. Não se faz uso da cibernética: urge derrotá-la, desativá-la.
8. As entidades são uma linha de fuga política e antropológica à dicotomia natureza e cultura.
9. Não há o corpo, apenas forças|vidas, entidades. O corpo sem atravessamentos históricos, sem a imanência que lhe circunscreve, é apenas soma (um cadáver, para os gregos). Contra as interdições dos neo-pentecostais instalados no palácio do planalto após 2019, não basta opor o escândalo de um corpo, seja supliciado ou nu. Urge restabelecer o contato entre devires anônimos e forças comuns nas quais os corpos são cintilações e intensidades.
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dali onde estamos,
agora
Sem nostalgias ou ressentimentos.
1/1/19
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