O anjo da morte, que em certas lendas chama-se Samael e com quem diz-se que também Moisés deveria lutar, é a linguagem. Ela nos anuncia a morte - que outra coisa faz a linguagem? Mas exatamente esse anúncio faz com que morrer seja tão difícil para nós. Desde tempos imemoriais, de quando dura a sua história, a humanidade está em luta com o anjo, para arrancar-lhe o segredo que ele se limita a anunciar. Mas das suas mãos pueris pode-se retirar apenas aquele anúncio que, de resto, ele nos tinha, de todo modo, vindo trazer. Disso o anjo não tem culpa, e somente quem compreende a inocência da linguagem entende também o verdadeiro sentido do anúncio e pode, eventualmente, aprender a morrer.
(AGAMBEN, Giorgio. Idea della Prosa. Macerata: Quodlibet, 2002. p. 117. Tradução: Vinícius Nicastro Honesko)
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