Imagem: Renato Barbosa
Praça remota de uma infância
Eras o próprio mundo infinitamente extenso
Antes de ser pisada por olhos
Que só atingem um beco suburbano
Com balanços de ferrugem e solidão
Velho cão ancestral solto em um terreiro
Encarnando todos os cães amados que hoje só perambulam em minha memória
Velho fogão, velha fumaça de lenha, velho frio
O teria sido, o foi
E aquilo que acaso virá, se vier
A vida é a tal agonia frágil,
Constante mesmo às intempéries e à mudança
Vigília teimosa
O que faz o rio andar entre margens?
Volto aos sonhos da cidade após o morro, mortos um a um
Ruas e vielas me enviam sinais impossíveis
O que não existe nunca existirá o teria sido
Impõe-me sua exigência
Volto para uma criança
Volto eu ou o decalque já amarelecido de mim?
Ou de outro sonhado em mim?
Volto para fantasmas cheirando a tempo
E tudo em se envereda para a metafísica do mofo.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
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Um comentário:
O mofo impregna não só as roupas, os armários, os cantos úmidos, o velho brinquedo infantil, as paredes laterais eternamente sobreadas por aquelas árvores de outrora... o mofo, ah, o mofo, a mais pura dose de tempo em estado bruto. (Amigo, espero que as coisas estejam bem por aí. Aguardo notícias. Abraço. V.)
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