domingo, 1 de maio de 2011

Glosa gelatinosa


Algo que me espanta - ao menos na aviação - é o fato de sempre se flutuar sobre algo, este oceano imperceptível, às vezes turbulento, que é o ar... (mesmo o ar, com dobras e planos e saliências).

Não há escape na imanência.

Até mesmo o cosmonauta flutua.

Não há flutuação no vazio.

Os significantes flutuantes sempre pairam em um terreno ambíguo. Este, por mais que não tenha a rigidez de um solo (muito menos de uma Ur-land!), possui uma consistência. É uma consistência: quase imaterial, o magma pressuposto da linguagem e dos extratos e sedimentos históricos que a acompanham. Murmúrios ditos e não ditos, multiplicidades babélicas, esquecimento, vasto vasto esquecimento!

A consistência do esquecimento.

Viver é consistir.

O silêncio dos espaços abismais - e a existência quase etérea destes - me apavora.

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