segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O que é uma hiena?



A Roberto Bolaño

Três características definem as hienas: são gregárias, riem e se alimentam da carniça. Por temerem grandes animais solitários e por sua sobrevivência ser garantida apenas pelo estratagema - hienas pouco se arriscam - elas vivem em bandos. Seu riso histriônico é a marca da falsa segurança garantida pelo agrupamento. Há muitas hienas no crime - tão acovardadas, mesmo quando matam, desejam patologicamente os restos putrefatos do capital - e no mundo corporativo (que, obviamente, abrange o primeiro). Aliás, a condição para alguém se manter no mundo das corporações é se tornar uma hiena. No pórtico de entrada deste inferno não está apenas a recomendação dantesca de que ali se abandonem todas as esperanças, mas este simples lema: "Escolha sua horda carniceira!"  

Os tribunais são os espaços emblemáticos das hienas - a dor ali é mais visível. Juízes, promotores e advogados são os animais humanos travestidos em hienas arquetípicas. Mas os agrupamentos que sobrevivem da carniça disseminam-se para outros campos. O mundo acadêmico, por exemplo, foi tomado pelas hienas - grupelhos arrivistas sobrevivendo ao redor da carniça deixada por animais solitários e globetrotters.

"Redes de hienas sociais", as hienas especuladoras em torno da cotação da carniça, as hienas pentecostais e seus templos de carniças vivas. Corretores de carniça e hienas cafifas donas de prostíbulos e bancos. As hienas da publicidade, com seus sorrisos esmaltados. Hienas do Vale do Silício e de Wall Street.

Grandes cidades periféricas como São Paulo, Lagos e Cidade do México, povoadas por carros, tiros, moradores de condomínios, oceanos de favelas e muitas hienas sorridentes.     

Empresas, universidades, partidos, exércitos, igrejas, quadrilhas. As fedidas hienas são animais associativos. Animais típicos da savana desertificada que o mundo se tornou. 


Imagem: Peter Chadwick 

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