quinta-feira, 16 de julho de 2015

O "gag" em Chaplin - Pier Paolo Pasolini


O "gag" geralmente é um processo estilístico que quer tornar automática a ação: mais ou menos como a máscara do teatro da arte quer tornar automático o personagem.
O "gag" e a "máscara" movem-se entre dois polos (entre dois usos diametralmente opostos); de um lado, podem atingir o máximo do automatismo ao transformar a ação e o personagem em uma abstração que conta como elemento de uma representação não-natural; de outro, por meio da síntese que operam, de maneira necessária, diria, técnica, elas tornam essenciais a humanidade de uma ação ou de um personagem ao apresentá-lo em um momento repentino e inspirado que lhe dá a realidade no seu ápice (e o contexto, portanto, é, ainda que que sem nenhuma nota naturalística, realístico).
Geralmente os "gags" são disseminados nos filmes, interrompendo um tipo diverso de técnica narrativa. Somente os filmes cômicos mudos são constituídos apenas de gags. Estes são, portanto, um fenômeno técnico e estilístico em si. O cinema de Chaplin não se assemelha a nenhum outro cinema: é um outro universo.
No cinema de Chaplin não há tudo o que nos outros filmes há. Em relação ao restante do cinema, os filmes de Chaplin podem ser definidos apenas por subtração, em uma espécie de fenomenologia negativa. Falo naturalmente dos filmes mudos: nos filmes falados de Chaplin tal originalidade absoluta não existe mais, pois em comum com os outros filmes eles têm os diálogos, que são a negação dos "gags". Nos filmes falados, portanto, os "gags" não podem mais constituir a única estrutura estilística, mas se alternam com outra estrutura que é a audiovisual, na qual mímica ou pura presença física e palavra oral se integram e não podem, nesse sentido, evitar as "notas de naturalismo" sobre as quais falava, que são incompatíveis com as sínteses puramente realísticas dos "gags".


Pier Paolo Pasolini. La "gag" in Chaplin. In.: Empirismo Eretico. Milano: Garzanti, 2000. p. 256. Trad.: Vinícius N. Honesko (o texto foi originariamente publicado em: "Bianco e nero", fascicolo 3/4, marzo-aprile 1971)

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