Aparenta-se à loucura reduzir o mundo e a palavra. Jogados em um universo impenetrável tentamos nomeá-lo, teimosamente, cônscios da nossa insuficiência. A nomeação, ato inteligente, é também - e por isso - um ato aflito. Daí as aventuras da linguagem, expressão - com as suas contorções, buracos, obscuridades - dessa tentativa tão desesperada.
Sim.
Como nomear o que nos foge, o que se nega, o que se oculta
- e como vislumbrar, sem nomear,
o que se oculta, nega, foge?
Nomeamos.
Isto é romper sem cessar os nossos olhos contra pontas de aço.
Mas insistimos:
experimentamos a nomeação, inventamos linguagens.
Ofício? Encargo? Desafio?
Difícil, bem sabemos, nomear e ver
- expressões de lucidez.
Vida e morte, contudo, iluminam-se? Ante elas transitais sem sobressaltos e tranquilamente medis a extensão dos cemitérios, insensíveis à extensão ilimitada da morte? Sois o repetidor, servil, de uma linguagem formalizada, convicta da própria eficiência, pois o real, pretendeis, é tangível e sem sombras? Nesse caso, entre vós e nós, os que vemos tão pouco e sabemos ver pouco, e falamos com os dentes soltos na boca, pois vemos pouco, as imagens da Terra obstruindo (folhas de treva?) nossas órbitas perplexas, entre vós e nós existem muros.
Sabemos não ver porque vemos. Estais certos de ver e tudo credes nomear? Isto é ofício de loucos.
Osman Lins. A Rainha dos Cárceres da Grécia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986. pp. 103-104.
Imagem: Nikos Economopoulos. During the election campain (Kalamata, 1981).
Nenhum comentário:
Postar um comentário