Pequeno sulco de realidade. Realidade? Sonhos avessos e palavras à espreita, e eis que o temor do despertar inaugura o dia. Desterrado na vigília, via-me perdido em meio a uma multidão absorta no vazio dos gestos vazios, no sem sentido da vida sem sentido. Estrondoso foi então o grito que vi sair das páginas de um livro qualquer: "A eternidade não é muito mais longa que a vida". Olhei vários rostos e tentei desenhá-los com palavras. Senti que era impossível, senti que a realidade era impossível. Só me restava a ironia de saber-me acordado, vagando por entre desenhos inacabados e palavras empalidecidas pelo temor do reingresso naquele pequeno sulco que a próxima noite já começava a anunciar.
Imagem: Francisco de Goya e Lucientes. Morreu a verdade. 1810-1814.
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