Perdido em minha demência caminho por entre galáxias absortas. Sinto o
cheiro das palavras que há pouco saíram das bocas maledicentes. E a ilusão do cheiro confunde-se com a sensação de as ter visto escritas, nas paredas das galáxias perdidas em desvarios. Paro, olho para o lado, confronto com meu irmão gêmeo, o nada. Labirintos de uma noite em claro à espera das obrigações do mundo dos práticos. Estes, os detesto, os detesto! Esfrego os olhos em busca de ofuscamento. Tento ver, tento ver, ainda que não queira. Há cheiros onde antes haviam formas, há formas onde não havia nada - ele, que já seria alguma coisa. Ah, as galáxias! Ah, as galáxias! Espaços vazios que me fazem ficar cheio de tudo. E viva Leminski! E viva Caproni! E viva Murilo! E viva Pessoa! Todos eles, como eu, mortos...
Imagem: Hieronymus Bosch. Dois Monstros. Staatliche Museen, Berlin.
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