segunda-feira, 13 de maio de 2013

Pequeno delírio em parágrafo XI






A luz do dia que não nasce. Passos apressados de uma massa com seu desodorante que intoxica. Todos correndo para seus laboratórios de niilismo vulgar: a movimentação da roda vazia do capital, do valor autorreferencial e vazio do dinheiro. Vida? Pura repetição, como o hamster das gaiolas embonecadas. Vida? Vidas sopradas com o cheiro dos desodorantes (o que desodorizam?). Nenhuma brisa reconfortante, apenas o aviso do tempo e desta luz que insiste em não vir. Nenhum azul e, com isso, nenhum mito. Nada, tão somente o eco oco de passos rápidos desses seres que seguem atrás do nada e pelo nada são perseguidos; o nada da existência sob luzes que não vêm, mas ofuscam. Estou no mesmo ônibus onde alguma vez já estive, tentando dar às palavras as coisas do dia que a elas é impossível (e que fique ambíguo). Permaneço preso nessa cadeia de espectros e nada, apenas "o" nada parece dar-se a ver na sua plenitude absoluta. 

Imagem: Raymond Depardon. Nova Iorque, 1982.

Nenhum comentário: