Fecho os olhos e vejo, com o fundo preto, esboços de rosas vermelhas. Suas pétalas aveludadas como que tocam a escuridão das imagens. Meu estômago se agita triturando palavras não ditas. É a doce ilusão dos sonhos, é a voracidade feita pedra. Absorto com as rosas, sinto a escuridão que me invade. Tomado de cólera, regurgito as palavras e dou mostras da ausência que tudo preenche. Nem mesmo Drummond seria capaz de dizer palavra. A ideia da rosa? Palavra vã, poema torto, e o toque de veludo apaga-se na escuridão. O elixir açucarado que há pouco ingeria dissolve-se em palavras vazias. Não há senão palavrório saltitando aos borbotões. Nenhuma ideia da rosa, apenas um sopro nos olhos desavisados. No poema faz-se a vida. Torta, enviesada, mas que resplandece em um sorriso...
Imagem: Goya. Jogo de cabra-cega. 1788-1789. Museu do Prado, Madri.
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