I
As forças da linguagem são as damas solitárias, desoladas, que cantam através de minha voz que escuto ao longe. E longe, na negra arena, jaz uma criança densa de música ancestral. Onde a verdadeira morte? Quis iluminar-me à luz de minha falta de luz. Os ramos morrem na memória. A jazente aninha-se em mim com sua máscara de loba. A que não pôde mais e implorou chamas e ardemos.
II
Quando da casa da linguagem se vai o telhado e as palavras não se protegem, eu falo.
As damas de vermelho se perderam dentro de suas máscaras e mesmo assim regressarão para soluçar entre flores.
Não é muda a morte. Escuto o canto dos enlutados selar as feridas do silêncio. Escuto teu dulcíssimo pranto florescer meu silêncio cinza.
III
A morte restituiu ao silêncio seu prestígio sedutor. E eu não direi meu poema e eu hei de dizê-lo. Mesmo se o poema (aqui, agora) não tem sentido, não tem destino.
Alejandra Pizarnik. Fragmentos para dominar el silencio. In.: Poesía Completa. Edición a cargo de Ana Becciu. Buenos Aires: Lumen, 2011. p. 223. (Trad.: Vinícius N. Honesko)
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