sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Estudo sobre a memória VII



Do lugar de onde provêm essas vozes, nada se sabe.
É um ermo, um vazio que, talvez, mais do que povoado de vozes,
seja ele mesmo as vozes que nos ludibriam e,
assim, fazem-nos inventar esse lugar.
Sobre o que falam tais vozes?
O que nos contam ao pé do ouvido?
A mim, soam como trombetas de arcanjos perdidos,
dizem-me "eu te amo" como se amor houvesse.
Elas, as vozes, aparecem aladas e em cada bater de suas asas
uma brisa me enche de torpor.

Ah, vozes antigas! Com a velocidade de suas asas,
caio para trás e me sento à espera de seu próximo rasante.
Mas por que me sondam se já não me dizem nada?
Por que voar no meu céu, onde só há o vazio?
E, por que, me pergunto, ainda as espero?

Imagem: Johannes Vermeer. O Concerto (detalhe). 1665-6. Isabella Stewart Gardner Museum, Boston.

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